Bem vindo ao O Catador de Conchas

Deixe, você, suas pegadas. Se preferir escolha sua concha.

27 de fev. de 2008

Um gesto

“Foi quando tomou-a em seus braços, olhou-a fixamente nos olhos e emudeceu. O olhar feminino arregalou-se e esboçou um brilho que nem mesmo a lua cheia mais incrível seria capaz de ser comparada.
Ela possuía o corpo tremulo, parecia não ser familiar àquele tipo de situação, enquanto ele exalava todos os aromas que Eros poderia ter ensinado a alguém. Por mais confiante que ele pudesse parecer, tinha cautela, sabia que um passo em falso poderia ser o derradeiro.
Já fazia algum tempo que se olhavam ininterruptamente, aquela troca de olhares parecia transmitir muito mais sensações que um toque...
... um toque foi o que bastou. Passou a mão em sua face e a envolveu num ósculo que fez com que o tempo parasse a sua volta. Era carnal, mas ele a conduzia com tamanha delicadeza que pareciam bailar a mais bela canção de amor.
Ainda um pouco insegura, ela o olhou e agradeceu:
- Obrigada. Obrigada, por me ensinar o que é o amor.”

Esboço escrito durante ociosidade no: TELEFÔNICA 15, MARCUS VINÍCIUS, BOA TARDE.

16 de fev. de 2008

Desabafo Paradoxal

É algo estranho. Abra a geladeira e veja apenas aquela garrafa de água azul, e nada mais! Dá pra imaginar? Então retroceda. Você está com muita fome, e vai com muito entusiasmo à geladeira e quando abre: apenas a garrafa azul de água. O que eu quero com isso? Que você entenda o que é solidão.
Não acho que não foi o suficiente. É assim, me sinto rodeado por pessoas, bastante mesmo, mas nunca me senti tão só. Sabe aquela história que você sempre achou ridícula da tampa da sua panela, azeitona da empada, chinelo confortável pra um pé descalço. Chega uma fase da vida que isso começa a ter algum fundamento. E olha, que fase que nos faz abrir os olhos e ter de encarar a vida, viu. Você já não vê mais seus amigos diariamente, apesar dessa nova fase te mostrar pessoas novas, é difícil entender que seus amigos que conviveram com você durante a escola, uma época louvável, marcada por surtos, amadurecimento e principalmente fazer coisa errada escondido, já não estão ali, presentes.
O ser humano é muito prepotente. Juramos o que não conseguimos cumprir, juramos amizade eterna, sendo que não somos tão fortes assim para segurar o tempo, e fazer com que a vida de cada um se adapte a sua, e que nada muda. E é assim com o amor, coisa que prefiro nem entrar no mérito.
Amor? Quem conhece o amor? Curso pra saber amar, é algo que não pode ser ministrado, não tem tamanho, nem fim. Mas independente de qualquer coisa, ame seus amigos, esses sim vão saber o que dizer pra você.
O mundo não pára, e o tempo também, tudo poderia ser muito mais fácil, como pegar um ônibus e descer na estação subseqüente. Mas essa nave em que estamos infiltrados não tem freio, e não dá pra pular da janela, ainda tem muita estrada pra ser percorrida.
Reciclar é preciso. Não, não a palavra da moda que é utilizada como tema de redações de vestibular, nem aquela que serve pra alguns se promoverem por meio de ações hipócritas, mas a reciclagem do ser humano. Queremos apenas evoluir a cada dia, esquecendo que pra isso é necessário um balanço, onde se retira as partes ruins e o que não foi bom, e tentar extrair desse ‘lixo’ alguma lição, não dessas de moral, mas uma lição que fará a sua evolução. Acredito que assim é a evolução completa, e se alguém algum dia conseguir me conte.
Quando se é criança, o gira-gira é a grande atração do parque, mas na realidade não passa de uma mensagem subliminar, mostrando a rotatividade de pessoas na sua vida, abrindo seus olhos pra dizer que nem tudo é pra sempre, uma hora alguém tem que descer do brinquedo, e voltar pra casa.
Seria tão bom se eu pudesse não parar o gira.

Eu sinto a falta de vocês, meus amigos.

10 de fev. de 2008

A saída mais fácil

“Quando conspira, tudo conspira pro mal. É doloroso, lento, e sutil. Tão sutil como um punhal que acaba de ser fincado peito a dentro.
Família, instituição falida no século XXI, algo a que já se deu tanto valor, hoje em 2313 já não se vê um futuro que recupere nem que a volte colocar no seu devido patamar.
Não há o que, na época, se chamava de florestas, o calor destruiu com tudo, dizem que nós seres humano tivemos que ser adaptados em laboratórios que cobraram fortunas para solucionar o problema no falido século XXI. A partir de então dizem que a humanidade se tornou maquinada, e conta a história que no tal século XXI já começamos a nos tornar maquinados, só que com a presença de chips em nossos corpos, a coisa tem ficado pior, ou melhor. Sem eles, não teríamos resistido ao calor, nem à sede.
O mundo não anda bem das pernas em 2313, mas me disseram que desde 2008 não andava. Queria conhecer um fenômeno que no passado chamavam de chuva. Dizem ser algo muito bonito. Foi quando o tempo entrou em coma, o céu foi tomado, e poucos conseguiram fugir, apenas os que haviam sido chipados conseguiram, foi lá quando se viu a última chuva.
Mas nem tudo vai tão mal, ainda se consegue ter um breve instante como um presente que se ganha, mas nunca se abre, apesar do conhecimento estar corrompendo o pouco que sobra desta sociedade que tenta a qualquer custo voltar ao tempo.
A saída de emergência está lacrada.

Me passe a navalha, e chega de dar tanto a valor à tudo, só há uma forma de voltar ao tempo, quando essa sangria chegar ao fim, serei um a menos no mundo.”
*Sem conserto - Lúcio Maia

1 de fev. de 2008

Primeira entrevista

Antes de começar gostaria de fazer uma referência. Uma vez li no Apenas um... uma crônica sobre uma entrevista de emprego, e fiquei pensando como seria a minha primeira, resolvi relatar.

Dia 29 de janeiro, recém-chegado de viagem, dia de dormir até mais tarde. Toca o telefone, meu pai atende. Era da empresa em que deixei meu currículo, entrevista marcada para o dia 31 às 8h.
Perfeito! Acordei, tomei aquele banho, dei um trato na aparência, me vesti com uma camisa esporte-fino, calça jeans, e all-star para não ficar tão sério. Estava nervoso e preparado para uma entrevista com o Justus.
Chego à empresa 7h45min. Assino a lista de presença, e observo os meus candidatos oponentes. Eles me tranqüilizaram. Não, não troquei palavras com eles. Apenas observei. Ninguém com cara de hiper QI. Mas me olhavam torto, meu cabelo e a forma como me vestira acho que havia chocado.
Já passavam das oito, e alguém diz: “Atenção candidatos da entrevista com o Symon, ele irá se atrasar!”. Pensei comigo: “Ele já está atrasado!”. Mas nenhum atraso que me irritasse. Eis que às 9h fomos encaminhados para a sala onde faríamos o teste, aí sim, já estava fulo da vida, uma hora de atraso! Infelizmente não pude fazer como o Edson e dizer poucas e boas para o entrevistando, afinal tratava-se de um primeiro emprego!
Recebemos a prova que se dividia em Língua Portuguesa, Lógica e Conhecimento Gerais. Quando li a primeira pergunta comecei a rir dentro de mim: Complete a frase: Eu tenho _________ laranjas que Daniel. a) menas b) menos
E o teste inteiro seguiu-se nesse ritmo. As pessoas ao meu redor suavam a cada pergunta respondida. Ah, não me esqueço dessa: Cachorro está para gato, assim como gato está para: a)leão b)cavalo c) rato d)galinha. E olhava as pessoas que demoravam a responder e com cara de muito concentradas. Terminei o teste em 15min, ele estava programado para uma hora. Assim que terminei o fiscal corrigiu e me entregou o teste de Informática. Perguntas inteligentes e bem formuladas, só que as respostas estavam em negrito! Acredite, as pessoas ao meu lado assinalavam qualquer alternativa, menos a que estava em negrito! Resultado da primeira fase: APROVADO! Nessa primeira fase a sala que tinha por volta de 30 pessoas prosseguiu com 20, 10 não atingiram o conhecimento mínimo. Intervalo.
Retornamos para a dinâmica. Estava bem seguro da dinâmica, afinal tinha trabalhado bastante dinâmica de grupo nos dois anos de teatro. Nos dividimos em cinco grupos e a proposta era: A empresa está com três grandes problemas com os seus funcionários: Absenteísmo, 80% dos empregados não atingem suas metas e 70% dos teleoperadores não conseguem subir de cargo. Solucione meus problemas. Inicia-se o debate. Começo falando e dando sugestões para a resolução da improdutividade dos funcionários, quando uma cidadã do meu grupo diz: “Eu acho que a solução é demitir os funcionários!”. Nem precisa falar que eu ignorei o comentário dela e continuei meu raciocínio. Ah, claro, e tive que explicar para uma integrante o que era absenteísmo. Enfim, de seis pessoas do grupo apenas eu a uma psicóloga trabalhamos e organizamos tópicos para sanar os problemas.
Projeto apresentado, claro por mim e pela psicóloga, recebemos o resultado: Aprovados para a terceira fase, e acredite apenas duas do meu grupo não foram classificadas, as outras duas entraram por osmose.
Próxima fase: preenchimento de fichas e exame médico. Resultado: PASSEI! Acredite ou não, tiveram pessoas que ficaram retidas no exame médico. Bom, então agora eu sou não mais um profissional da beleza, mas sim um operador de telemarketing. Em breve estarei ligando para a sua casa e propagando o gerundismo tímpano a dentro. “Bom dia, eu gostaria de estar efetuando uma pergunta para a senhora, mas caso não estiver interessada, posso estar transferindo a ligação para outro setor que poderá estar resolvendo os seus problemas!”.
Me cabe esperar uma ligação me dizendo a data em que devo levar os documentos e aí sim, estará tudo concluído! Daí em diante e pegar na enxada!
Só para registrar cheguei em casa às 16h30min. Foi rápido!